sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Resistência.

"É pelas pequenas coisas que compreendemos, que medimos a extensão da nossa solidão física, da qual, no fundo, sofro bem pouco. Entretanto, ontem, descendo a escada para fazer o que se convencionou chamar de 'passeio', Jacotte apertou a minha mão ao passar, apertou minha mão sobre o corrimão da escada. Não consigo esquecer essa sensação cálida, essa sensação física de carne humana roçando a minha pele. Uma carícia, após três meses de solidão absoluta, fica marcada. E o prazer que se sente revela o deserto em que se vive aqui. O mesmo acontece com a feiúra e a sujeira reinantes. Acabamos, com o tempo, não prestando mais atenção. Ainda assim, eu, que não choro nunca, que não derramei uma única lágrima depois de ser presa, comecei a soluçar como criança ao receber, trazidas pelo guardião (um pobre diabo, esse aí), duas flores enviadas por Jacotte. Uma rosa vermelha e uma centáurea-azul. As cores de Paris! Eu não via o menor pedacinho de verde, o mais ínfimo vestígio de natureza há mais de três meses. Bastam duas flores mandadas por uma amiga gentil para romper meu equilíbrio, minha indiferença fingida!"

Agnès Humbert, Resistência - A história de uma mulher que desafiou Hitler, página 77.